Animais exóticos em casa: o que você precisa saber para ter um

Nos últimos anos, muitos de nós têm testemunhado uma mudança no cenário dos pets. Enquanto cães e gatos continuam sendo os companheiros tradicionais, novas espécies vêm conquistando os lares urbanos: os pets exóticos. Furões, serpentes, lagartos e até ouriços africanos estão se tornando escolhas populares entre pessoas que buscam uma conexão diferente com a natureza e uma experiência de convivência única.

A pesquisa Mercado Pet Brasil 2023, realizada pela Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação, a Abinpet, apontou 3,8% de crescimento acumulado (2021 e 2022) da população de répteis e pequenos mamíferos no País. 

A ascensão dos pets exóticos nas cidades é uma tendência fascinante, que oferece novas oportunidades para pessoas que desejam uma conexão diferente com a natureza. No entanto, é uma escolha que deve ser feita com muito cuidado e preparação. Ao considerar um pet exótico, o tutor deve estar ciente dos desafios e compromissos envolvidos, e disposto a oferecer o melhor cuidado possível desde a aquisição.

Essa tendência reflete a crescente busca por originalidade e um desejo de se afastar das escolhas mais convencionais de pets. Para muitos, esses animais exóticos oferecem uma forma de trazer a natureza selvagem para dentro de casa, mesmo em ambientes urbanos. Mas adotar um pet exótico envolve muito mais do que apenas charme e fascínio. A criação e o cuidado dessas espécies exigem responsabilidade e conhecimento.

A atração pelos pets exóticos vai além de seu aspecto inusitado. Muitas pessoas se sentem atraídas pela personalidade única dessas espécies, que costumam ser mais independentes ou silenciosas, características que podem se adequar melhor a certos estilos de vida. Serpentes e lagartos, por exemplo, não exigem tanto afeto físico quanto cães ou gatos, sendo uma escolha interessante para quem prefere pets menos apegados.

Outro fator que impulsiona a escolha por pets exóticos é o desejo de experimentar algo novo. Tutores que já tiveram experiências com cães ou gatos muitas vezes optam por animais diferentes para variar a dinâmica do lar e aprender mais sobre espécies menos comuns.

Apesar do encanto, adotar um pet exótico traz desafios específicos. As condições do ambiente em que vivem também contribuem para determinar a qualidade de vida desses animais, que geralmente possuem necessidades muito particulares, seja em termos de alimentação, ambiente ou comportamento. Por exemplo, répteis precisam de temperaturas controladas e ambientes específicos, como terrários, para se manterem saudáveis. Furões, por sua vez, são extremamente ativos e precisam de atenção constante para evitar comportamentos destrutivos. Já pequenos mamíferos podem precisar de mais enriquecimento ambiental para ter qualidade de vida. Enquanto isso, as serpentes demandam espaços específicos para alimentação para prevenir ataques aos tutores. 

Além disso, é fundamental ter conhecimento sobre as leis locais. Em muitas cidades, a posse de animais exóticos é regulada por legislações rigorosas que visam proteger tanto os animais quanto as pessoas. Antes de adotar qualquer espécie, é importante verificar se o pet é permitido na sua região e garantir que ele seja obtido de forma legal e ética.

A responsabilidade pelo bem-estar dos pets exóticos

Manter um pet exótico saudável e feliz não é apenas uma questão de seguir manuais. Exige comprometimento para entender suas necessidades e garantir que o ambiente seja adequado para seu bem-estar. Isso inclui alimentação balanceada, espaço adequado e cuidados veterinários especializados, o que pode ser um desafio, já que nem todos os veterinários estão familiarizados com o manejo dessas espécies.

Além disso, o bem-estar mental desses animais deve ser levado em conta. Muitos pets exóticos, como os lagartos e furões, precisam de estímulos e ambientes enriquecidos para não desenvolverem estresse ou apatia. O tutor deve estar preparado para proporcionar um ambiente desafiador, que atenda tanto às necessidades físicas quanto às psicológicas do pet.

A médica veterinária especializada em animais silvestres, exóticos e pets não convencionais Dra. Patrícia Montresor explica que as necessidades singulares devem ser consideradas antes mesmo da escolha para entender a viabilidade de tê-los em casa sem comprometer o seu bem-estar e das pessoas que irão conviver com eles. É preciso garantir a disponibilidade de médico veterinário especializado na espécie não só para consultas regulares, mas também para alguma possível emergência. Nesses casos o tempo de resposta pode ser crucial para preservar a vida do animal e, por isso, ter um profissional próximo apto a atendê-lo é essencial. 

Além disso, cada pet exige uma dieta adequada e individual. A especialista explica que é preciso, inclusive, entender a disponibilidade de fornecedores não só para alimentação, mas para itens como substratos, medicamentos, acessórios e as próprias instalações necessárias para uma vida sem sofrimento e saudável ao animal de necessidades complexas.

São necessários muitos cuidados com a saúde

Animais exóticos podem, em alguns casos, representar riscos à saúde pública. Muitas espécies são conhecidas por transmitir zoonoses, doenças que podem ser passadas para pessoas, como a salmonella, comumente associada a répteis. Por isso, é essencial que os tutores sigam práticas rigorosas de higiene e cuidados sanitários, especialmente em ambientes urbanos onde o contato com outras pessoas é mais frequente.

Também é necessário garantir a segurança do próprio pet e das pessoas ao seu redor. Animais como serpentes e lagartos podem se machucar facilmente ou, em casos mais extremos, escapar e causar problemas no ambiente urbano.

Bem-Estar animal e regulamentações

Além dos cuidados práticos, existem questões legais e éticas que também devem ser consideradas. A Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998), uma das principais legislações que regulamentam a posse de animais exóticos no Brasil, estabelece sanções penais e administrativas para quem pratica atos lesivos ao meio ambiente, incluindo o comércio ilegal de animais exóticos.

O convívio com essas criaturas exige responsabilidade desde a aquisição do pet para garantir a legalidade e a origem deles. De acordo com o 1º Relatório Nacional de Tráfico de Animais, a cada ano são retirados da fauna brasileira 38 milhões de animais silvestres, comprometendo a existência de muitas espécies.

É muito importante exigir e conferir a documentação dos locais de compra e dos animais, que devem ser adquiridos em criatórios legalizados pelo IBAMA. No ato da compra devem ser entregues: nota fiscal, certificado de origem e guia de transporte e os animais devem ser anilhados ou microchipados. 

Quem ama a natureza deve prezar por atitudes que desestimulam e combatem o tráfico de animais e preservam a vida de qualidade. Atender as necessidades de cada espécie e garantir uma vida sem sofrimento são questões básicas que devem ser levadas em conta a partir do momento em que se decide adquirir um animal, seja ele qual for. 

No fim, a escolha de um pet exótico é uma jornada de aprendizado e conexão. Quando feita de forma consciente e responsável, pode ser uma experiência enriquecedora para o tutor e garantir uma vida feliz e saudável para o pet, exótico ou não.

Confira o guia rápido que preparamos para quem quer acrescentar um pet exótico em casa:

1. Pesquise profundamente sobre a espécie que quer adquirir;

2. Verifique as leis federais e municipais;

3. Busque criadores responsáveis e exija documentação: nota fiscal, certificado de origem e guia de transporte, e cheque se o novo companheiro estará anilhado ou microchipado;

4. Encontre um veterinário especializado;

5. Certifique-se de que terá acesso a todos os fornecedores necessários para manter a saúde do pet, como de alimentos, substratos, medicações ou suplementações, etc;

6. Prepare o ambiente adequado para a espécie;

7. Considere os custos de manutenção;

8. Esteja preparado para comportamentos únicos;

9. Considere a longevidade em alguns casos e não esqueça de checar o tamanho adulto;

10. Forneça uma alimentação adequada;

11. Eduque-se sobre a interação com outros pets e com as pessoas.

Conta para a gente se você conhece alguém que tem um desses animais ou se já escolheu o seu pet exótico!